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Evangélicos têm menos medo de morrer e creem menos em vacinas, aponta Datafolha

23 de mar. de 2021

 


Em 2020, um popular aplicativo para ler a Bíblia online, o YouVersion Bible, registrou quase 600 milhões de buscas em todo o mundo, 80% a mais em relação ao ano anterior. Um dos termos mais pesquisados, “medo”, levava a um famoso versículo do livro de Isaías: “Nada temas, porque Eu sou contigo”.

Nada ou pouco temem serem infectados pela Covid-19 quase metade (46%) dos evangélicos no Brasil de 2021. Entre os católicos, o mesmo índice é de 32%. Em geral, evangélicos formam uma parcela religiosa da população mais descrente nas vacinas e nas medidas de isolamento do que os cristãos fiéis ao Vaticano.

Os dados vêm da mais recente pesquisa Datafolha, realizada por telefone nos dias 15 e 16 de março de 2021, com 2.023 pessoas em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para baixo ou para cima.

Consideraremos aqui apenas esses dois nichos de fé por representarem 8 em cada 10 brasileiros -54% dos entrevistados se declararam católicos, e 24%, evangélicos. As margens de erro de cada grupo são de três e cinco pontos para baixo ou para cima, respectivamente. Para fins estatísticos, as amostras de outras religiões são pequenas e, se vistas isoladamente, têm margens de erro muito altas.

O Brasil vinha numa escalada de mortes quando a pesquisa foi feita, com 2.841 vítimas de Covid-19 no segundo dia da coleta de dados. O Datafolha perguntou sobre a aderência dos brasileiros ao protocolo sanitário recomendado para controlar a doença, e nesse quesito cristãos dos dois lados não divergem muito.

Só 5% dos evangélicos e 3% dos católicos responderam estar vivendo normalmente, sem alterar a rotina. A taxa dos que dizem usar máscara sempre, em ambos os segmentos, é de 9 em cada 10 entrevistados. A média de quem já foi contaminado está dentro da margem de erro: 8% dos quem segue o Vaticano e 6% da outra porção cristã.

Os números se espaçam quando o assunto é vacinação, quarentena e quais serviços devem ser fechados.

A ampla maioria das duas fatias religiosas quer ser imunizada. Entre os que se negam, enquanto só 6% dos católicos ainda não vacinados dizem que não pretendem sê-lo, mais do que o dobro (14%) dos evangélicos rejeitam a dose.

Os pesquisadores quiseram saber o que é mais importante neste momento, ficar em casa ou acabar com o isolamento para estimular a atividade econômica. Entre católicos, 63% preferem deixar as pessoas quarentenadas ainda que isso possa prejudicar a economia e causar desemprego. Concordam com a ideia 51% dos evangélicos.

O que deve fechar na pandemia? A interdição da praia é um empate, com 8 em cada 10 entrevistados nos dois grupos apoiando a medida. Os jogos de futebol, quase: preferem que parem 78% dos católicos e 71% dos evangélicos.

O maior impasse é sobre as igrejas: 65% contra 39%, nessa ordem. Vale lembrar que muitos dos que se declaram católicos no Brasil não são praticantes, ao contrário dos evangélicos, que costumam viver intensamente a vida religiosa. Logo, faz sentido que tenham mais apreço por templos abertos. Que governante deveria ser o principal responsável pelo combate à pandemia, presidente, governadores ou prefeitos? Jair

Bolsonaro é o mais citado em todos os nichos, mas em menor grau para evangélicos: 35% acham isso, contra 44% dos seus pares cristãos.

A condução do presidente na maior crise de saúde do Brasil em um século é pouco otimista para a maioria dos entrevistados. Evangélicos, contudo, aqui novamente lhe dão mais moral: 27% aprovam a performance, versus 20% dos católicos.

O culto à fé explica em partes as eventuais cisões no universo cristão, diz o diretor de Pesquisas do Datafolha, Alessandro Janoni. “Algumas correntes religiosas sobrepõem-se à ciência e ao medo, e a classificação polêmica de templos como serviços essenciais é um exemplo dos reflexos desse fator sobre a segurança sanitária.”

Há, contudo, uma variável mais concreta nesta equação: o apoio maciço dos evangélicos garante a Bolsonaro capilaridade em segmentos estratégicos, como mulheres (que são 60% dos evangélicos) e os de menor renda (62% deles têm renda até dois salários), Praticamente metade dessa parcela religiosa recebeu o auxílio emergencial em 2020 e voltará a pedi-lo neste ano.

 

Fonte: Datafolha