Nós, brasileiros, temos mania de comprar soluções fáceis que, num piscar de olhos, como se fosse mágica, resolveriam todos os complexos problemas políticos, sociais e administrativos no Brasil.
Por exemplo, não podemos tomar conhecimento
de um projeto de lei tornando a corrupção crime hediondo que já compartilhamos
alucinadamente a notícia nas redes sociais como se fosse a grande solução para
punir políticos no Brasil. Mas é necessário muito mais do que uma lei para
botar políticos na cadeia.
Com a Lei da Ficha Limpa esse comportamento
bem “brasileirinho” se repetiu. Comemoramos como se a lei estivesse retirando
dos corruptos notórios a possibilidade de apresentar seus nomes em um pleito.
E, assim, colocamos na Justiça a obrigação de impedir novos mandatos. Mas a
maioria dos barrados pela Lei citada colocaram esposas, filhos e assessores
como candidatos, elegeu-os e continuará mandando em Prefeituras e Câmaras
Municipais pelo país. Isso porque a fiscalização e observação política cabem a
nós, e nenhum juiz, promotor ou ordenamento jurídico se incumbirá de tal feito.
Mas o brasileiro gosta de comprar idéias mirabolantes
e, por esse mesmo motivo, frágeis.
Isso se dá, primeiro, por falta de
conhecimento. Falta-nos estudar educação política durante o ensino médio. Falta-nos
debater mais profundamente os temas do nosso cotidiano com nossas famílias e
amigos. Aderir ao mero obaoba dos
assuntos do momento não trará soluções viáveis. É necessário que nosso povo se
conscientize da necessidade de estudar, avaliar, analisar a política de forma
mais profunda, precisamos saber o que é uma licitação, precisamos compreender a
estrutura e funções dos nossos órgãos públicos, precisamos freqüentar as
sessões das Câmaras e fazer valer leis de transparência pública.
Mas há também outro fator que dificulta o
real engajamento do povo brasileiro: o comodismo político. Somos cidadãos
acomodados! Não nos acostumamos a pensar a política, a dialogar sem agressividade
e a aprimorar nossos argumentos. Nos acostumamos com campanhas no interior nas
quais votamos no candidato que é amigo, que vai dar algum benefício, que vai
dar cargo ou que compra o voto. Negociamos o voto – que é o maior bem que temos
na Democracia – baseados em critérios pessoais. Por isso, nos encontramos num
estágio ainda muito embrionário da Democracia.
E quando somamos a falta de conhecimento com
o comodismo político, temos um povo que se constitui em massa fácil de manobra
política. Nesse terreno fértil para distorções, vão surgindo essas soluções
mágicas como, por exemplo, o Partido Verde propondo adoção do
parlamentarismo, sem nenhum cabimento a essa altura da nossa República.
E surge também a
maior falácia do momento: o impeachment da Presidente Dilma.
Falácia! Primeiro,
porque não vai ter impeachment. A saída da presidente nas condições atuais é
descabida, comprometeria a economia ainda mais e não seria solução para
absolutamente nada que diga respeito à corrupção e tradições política no Brasil.
Nada!
Não adianta depositar nossa esperança em uma
idéia que não acontecerá e - se em um caso muito extremo acontecer - não
solucionará nada. Não adianta comprar soluções imaginárias como se acabar com a
corrupção fosse apenas tirar uma presidente do poder ou retirar o Partido dos
Trabalhadores. Não adianta achar que um ato, uma simples manifestação, ou que
pintar a cara de verde e amarelo vai resolver algo. Por que não vai.
O exercício da cidadania exige dedicação
diária. Impõe que repensemos comportamentos arraigados em nossa sociedade, para
deixarmos de lado convicções políticas pessoais em prol do raciocínio do cenário
e do apoio às medidas que se afigurem necessárias. E enquanto boa parte da
população encanta-se com a solução mágica do impeachment, o que temos é um povo
que está com a atenção desviada reais soluções, como fiscalizar Câmaras e
Prefeituras, participar de reuniões partidárias, pedir o afastamento dos
investigados, cobrar a saída do Presidente da Câmara e do Senado do cargo
enquanto são investigados pela Casa, saber o que se passa nas prefeituras nas
nossas cidades... Por que a honestidade no meio político brasileiro não virá
por um decreto ou por mágica.
Daniele Barreto é advogada, consultora
política e escreve no blog www.danielebarreto.com.br