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População em situação de rua cresce significativamente em Salvador durante a pandemia

7 de fev. de 2022

 


Ter onde viver, dormir, se alimentar, e morar, pode ser considerado um grande privilégio em Salvador, onde o número de pessoas em situação de rua cresceu significativamente durante o período de pandemia da Covid-19. A crise econômica decorrente da doença que já matou 8.251 pessoas na capital baiana, conforme aponta o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), neste domingo (6), é o principal fator determinante para a falta de moradia e escassez de alimentos que atinge essa população.


Segundo a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), responsável pela atenção ao público que vive em situação de rua em Salvador, ainda não foi possível calcular o índice exato de pessoas nessas condições na capital baiana, contudo, até o momento, a estimativa é de que esse número já chegue a 7 mil.

“O último censo realizado pela secretaria Sempre, em 2018, catalogou 5.900 pessoas em situação de rua em Salvador”, informou, em nota ao BNews. “O agravamento da crise econômica causou efeitos sociais como o aumento da população em situação de rua nas principais cidades do Brasil. Em Salvador, para quantificar a nova realidade e com o objetivo de chegar ao número atual da população em situação de rua, a Sempre assinou convênio com o Projeto Axé, que deve chegar ao novo número ainda em 2022”, explicou a assessoria de comunicação da secretaria.

“No processo de vacinação desse público na capital baiana, dados cruzados da Sempre, Projeto Axé, Ministério Público, Defensoria Pública e demais integrantes da rede de proteção de direitos chegaram ao número de 7 mil pessoas em situação de rua em Salvador, aptas a receberem a vacina, que já dá uma ideia do aumento desse público no município”, aponta pasta.

Em entrevista ao BNewso secretário Kiki Bispo, titular da Sempre, garantiu que um levantamento que indica a taxa da população em situação de rua em Salvador deve ser divulgado ainda nesse semestre. “É uma ocorrência nacional. Salvador saiu de três unidades de acolhimento para 17. Nós temos aumentado nossos benefícios, sobretudo o auxílio moradia, tudo isso com o objetivo de amenizar os efeitos da pandemia voltados para a população em situação de rua”, relata.

“É claro que os números ainda são imprecisos, mas ainda nesse semestre, nós estaremos divulgando um censo para que possamos ter esses números com mais exatidão. Já está muito perto de finalizar a parte técnica para a gente lançar o censo e com base nesses dados, aí sim a gente vai ter mais eficácia para enxergar primeiro o número exato, e saber atuar de forma mais direcionada para poder reduzir o público em situação de rua”, prometeu o secretário.

Apesar de os números ainda não serem precisos, o secretário afirma que o aumento da quantidade de pessoas em condição de vulnerabilidade social e sem moradia, nas ruas da capital baiana, é perceptível. Na medida em que a gente coloca mais quatro unidades de acolhimento, a gente aumenta os nossos benefícios, a gente consegue perceber nos nossos restaurantes populares, que nós saímos de 700 e passamos para 1.000, tudo isso por conta do aumento da demanda”, conta.

“Então, os nossos equipamentos acabam respondendo que esse número aumentou, e aí, claro, a gente precisa ter essa sensibilidade. Nós temos hoje um sistema de assistência social muito bem estruturado em Salvador, e a gente consegue, com base nesses dados, que são aí colocados em cada setor desses, enxergar que os números aumentaram”, emendou Bispo.

Apoio da prefeitura à população em situação de rua

De acordo com o secretário municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza, a prefeitura de Salvador, por meio da Sempre, disponibiliza diversos auxílios à população em situação de rua na capital baiana, estratégia que também tem como objetivo conter os efeitos causados pela pandemia da Covid-19 a este público.

“Nós temos o auxílio moradia, que é o auxílio que a gente paga R$ 300 para a população que não tem residência própria, e a população em situação de rua tem direito a esse auxílio; nós temos o auxílio viagem, que é para aquelas pessoas que vieram do interior, ou de outras cidades e outros estados, e a gente disponibiliza para eles a passagem de retorno para a cidade de origem”, detalhou.

“Esses são os dois principais auxílios, além do CadÚnico, que a gente tem feito um esforço muito grande, descentralizando nossos atendimentos, aumentando a capacidade de atendimento, para que essas pessoas possam estar inseridas no Auxílio Brasil. Salvador, por exemplo, saiu de dezembro, de 185 mil para 220 mil pessoas contempladas agora em janeiro, um acréscimo de 35 mil pessoas, e a nossa vontade é que a gente possa, ainda nesse semestre, aumentar esse número”, finalizou Kiki Bispo.

Solidariedade faz a diferença

Além do apoio da secretaria responsável, a população em situação de rua de Salvador pode contar também com o apoio de voluntários sociais que por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs), instituições beneficentes e até grupo de amigos solidários, buscam com ter as dificuldades vivenciadas diariamente por essas pessoas.

À reportagem, o padre Alfredo Dorea, o coordenador da Instituição Beneficente Conceição Macedo (IBCM), localizada no bairro de Nazaré, em Salvador, conta que a pandemia foi o fator decisivo para que a instituição iniciasse o trabalho de apoio ao público que vive nessa condição de vulnerabilidade social.

“Nós passamos a ir para as ruas por causa da pandemia, porque chegou muita demanda, mas a gente não fazia isso de abordagem à população em situação de rua. Começamos a ir levando 100 refeições diárias, mas esse número é sempre insuficiente. A impressão que nós temos é que aumentou muito”, relatou o padre.

Conforme aponta padre Alfredo, neste período de pandemia foi possível, inclusive, perceber o aumento do número de locais da cidade ocupados por pessoas em situação de rua, a exemplo das regiões do Campo da PólvoraDjalma DutraPela PorcoPoliteama, entre outros. “Tinham locais já de encontro desse público, que eram já tradicionais, mas apareceram novas regiões”, destaca o coordenador da IBCM.

O trabalho desenvolvido pela instituição com esse público visa ainda prestar apoio aos animais de estimação das pessoas em situação de rua. “Na nossa ida na rua a gente leva também a ração do cachorro porque quase 80% dos moradores em situação de rua têm cães e a gente verificou que muitos dividiam as refeições deles com os cães. Mesmo não tendo o que comer, quando recebiam, dividiam para o cão também comer. Isso aponta para a questão de que muitos deixam de ir para o abrigo porque não podem levar seu cão. Dizem assim: ‘Se ele era meu único companheiro, no tempo que eu tava na rua, como é que agora eu vou morar num local e ele não vai poder ir?’”, lamentou padre Alfredo. “Não tem nenhum abrigo em Salvador que aceite cachorro ou gato”, chama atenção.

Apesar do trabalho constante, o coordenador destaca que os alimentos distribuídos diariamente não são suficientes para atender todo o público em situação de rua da cidade. “Tem dias que a gente tem doador que doa 200 quentinhas, e a gente entrega todas, vai e não volta”, concluiu.

Outra equipe que desenvolve um trabalho contínuo com a população em situação de rua em Salvador é composta pelos voluntários sociais do projeto Seja Semente.

“Nossas ações são semanais, com cerca de 150 a 200 quentinhas com comida, garrafa de água mineral e café com leite. O número de quentinhas varia de acordo com as doações que recebemos e dependemos 100% de dessas doações. Durante a pandemia, semanalmente percebo que o número de pessoas na rua cresce, além da quantidade de crianças, que antigamente não eram tão vistas à noite”, relatou a enfermeira Marina Martins, uma das responsáveis pelas ações de rua realizadas pelo grupo.

Marina reforçou ainda a importância das doações para que seja possível manter a rede de apoio a esse público. “Por isso, precisamos cada dia mais de doações para dar continuidade ao projeto”, finalizou.