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“A imagem internacional do Brasil no momento é péssima”, diz Rubens Ricupero

5 de abr. de 2021

 


O diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero diz que a “imagem internacional do Brasil no momento é péssima” devido ao agravamento da pandemia e ao crescente número de mortos. De acordo com ele, “esse é o momento que nós temos que nos unir acima de partidos” e defender uma política clara e abrangente de vacinação, necessária para tirar o país das crises econômicas e de saúde pública. O diplomata, que participou no início de março de um Painel Internacional a convite da Unijorge, diz que o Brasil está também “na contramão da história em sua política ambiental” e que governo federal tem que atuar para restabelecer a capacidade de consumo da população. Confira:

Como o senhor está vendo esse momento da pandemia e as próprias ações que o Governo Federal tem empreendido para conter o vírus?

Bem, nós estamos vivendo uma situação de crise sem precedentes. É até um lugar comum dizer que não é uma crise apenas, mas a convergência de várias crises. Crises econômicas, crises sociais por causa da situação de carência de boa parte da população, uma crise política por falta de liderança ou então uma liderança equivocada, além da grande crise sanitária. Tudo isso forma um conjunto extremamente preocupante. Você terá visto que nos últimos dias foi divulgada uma carta, um documento assinado por muitos economistas e vários ex-ministros da Fazenda, presidentes do Banco Central, entre os quais eu também fui um dos signatários. E essa carta constitui talvez a melhor síntese pelo menos de duas dessas crises: a econômica e a sanitária. O que é uma carta que mostra muito bem que esses dois aspectos são inseparáveis. Eles são como duas faces da mesma moeda. E que é um equívoco muito grande tentar priorizar uma em detrimento da outra. Se nós não conseguirmos um combate adequado à pandemia, nós não temos nenhuma possibilidade de reativar a economia. E é muito claro que não só no Brasil, mas em todos os países que enfrentam esse problema, a prioridade absoluta tem que ser a pandemia, porque sem ela não há possibilidade de reativar a atividade econômica. Esse documento, no meu entender, é uma das exposições mais completas da política que se deveria seguir e que infelizmente não está sendo seguida. Eu creio que no momento atual, depois de repetidos equívocos, começa a haver um consenso sobre a necessidade da prioridade à vacinação. Infelizmente esse consenso vai demorar para produzir resultados. Porque como nós fomos muito negligentes, como diz a carta, em cuidar de comprar vacinas enquanto era tempo, nós só vamos ter vacinas em números suficientes daqui a alguns meses. Não se sabe exatamente quando, mas provavelmente não antes do fim de maio, começo de junho. De qualquer forma, é melhor do que nada. Nós já começamos a avançar. Só agora falta uma coisa, que é a vacina. Infelizmente, é isso.

Os economistas fazem um prognóstico muito pessimista para o ano e preveem uma recessão sem precedentes no Brasil. Que medidas devem ser adotadas para minimizar os impactos sobre o setor produtivo do país?

Olha, nós estamos começando a viver a pior situação econômica possível, que nós tivemos no final do governo da presidente Dilma Rousseff, que é a “estagflação”. Isto é, a estagnação econômica com aumento de preços, que normalmente, como todo mundo sabe, quando há inflação, a economia está aquecida, está crescendo. No nosso caso, não. É um paradoxo. A economia não está aquecida, não está crescendo, as pessoas não têm dinheiro para consumir, no entanto, os preços estão subindo. Porque é um choque que vem não da demanda, mas vem da oferta, sobretudo do preço das commodities que o Brasil exporta que estão se valorizando lá fora porque há muita demanda da China, e também por causa do dólar que se desvalorizou muito. Então nós estamos hoje um pouco prisioneiros desse mercado internacional. O Banco Central, preocupado com essa volta da inflação, resolveu aumentar a taxa de juros. Ao meu ver, eu digo isso com todo o cuidado, porque eu já não estou mais na vida econômica ativa, não disponho das informações que o Banco Central tem, mas eu tenho a impressão, junto com outros economistas, que o BC exagerou um pouco na dose. Um aumento de 0,75 foi muito forte, sobretudo num momento em que a economia ainda está muito prostrada. E eu tenho medo de que esse aumento da taxa de juros vá constituir um fator adicional para tornar a recuperação econômica ainda mais difícil. Você me perguntou quais são as medidas. Eu acho que as medidas, em primeiro lugar, passam por um esforço do Governo, que tem que restabelecer a capacidade de consumo da população. Nós temos que voltar a ministrar o auxílio. Eu também tenho a impressão de que esse auxílio que foi aprovado é insuficiente, é muito pequeno para que as pessoas possam realmente voltar a consumir. E, como você não ignora, nós infelizmente temos uma parcela gigantesca da população, são aqueles chamados “invisíveis”, são as pessoas que trabalham na economia informal, que não têm carteira assinada, não têm emprego fixo, vivem de biscates. Essas pessoas são as maiores vítimas da pandemia. E eu acho que o que o Governo vai pagar a elas é pouco. Ao meu ver, o que seria necessário, verificada a insuficiência da soma, é que se aumente, mesmo que isso agrave provisoriamente a situação das contas, das finanças do país, porque num momento de calamidade pública, de sobrevivência, como é a pandemia, é como uma guerra. Nós temos que dar prioridade à vida das pessoas, à vida e à saúde. Então eu acho que seria necessário, por alguns meses, até o momento em que a vacinação comece a produzir efeito, quem sabe lá por setembro, outubro, um auxílio maior. E, paralelamente, eu acho que uma coisa que nós até agora não fizemos, é uma atenção maior às pequenas, microempresas, que são as que dão muito emprego. E o Governo tentou fazer alguns programas, mas muito difíceis. A maioria esmagadora dos empresários não conseguiu acessar esses programas. Então eu acho que essas duas medidas, que são de cunho sobretudo social, ajudariam a aliviar um pouco a atmosfera, permitiriam as pessoas