Pais e responsáveis por crianças na capital e no interior do estado estão em alerta por conta do aumento de casos de meningite viral. Este ano, já foram registradas 31 ocorrências da doença em Salvador, número 675% maior do que os quatro pacientes diagnosticados na cidade em 2021, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em toda a Bahia, foram 85 casos em 2022, contra 17 no mesmo período de 2021, aumento de 400%.
A Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) afirma que o aumento ocorre porque, no auge da pandemia, as medidas de prevenção para conter a covid-19 também serviram para frear a meningite. Em 2020, foram 35 ocorrências na Bahia. Já em 2019, antes do novo coronavírus, o número foi alto também - 104.
Fortes dores de cabeça, vômito e febre acima de 38º são os principais sintomas da doença que inflama as camadas dos tecidos que recobrem o cérebro e a medula espinhal. A meningite viral é causada por um vírus e é o tipo mais comum da doença, que também pode acometer os pacientes via bactérias. A forma bacteriana tende a ser mais grave do que a viral.
Adriana Dourado, sanitarista da diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab, garante que até então não há registro de surto da doença no estado. Ela explica que a baixa notificação entre 2020 e 2021 se deve às medidas de isolamento e ao uso de máscaras. “Isso favorece o controle de outras doenças, como meningite”, acrescenta.
A transmissão da doença se dá pela saliva, secreções respiratórias ou contato com objetos contaminados. Diversos vírus podem provocar a doença, por isso é importante estar sempre com a caderneta de vacinação atualizada.
“Não existe uma vacina para meningite viral, mas para os vírus que causam a doença. Por exemplo, a vacina tríplice viral vai prevenir contra o sarampo, que pode levar à meningite”, esclarece.
Na metade do mês de outubro, a escola Gurilândia, que possui unidades nos bairros Pituba e Federação, enviou um comunicado aos pais e responsáveis pelos alunos alertando sobre a meningite viral e os sintomas da doença. No comunicado, a escola nega que tenha havido casos confirmados entre os estudantes, mas reforça que crianças com sintomas devem ir ao médico e permanecerem em observação.
A filha da advogada Tatiana Matos é aluna do grupo 5 da escola, e a mãe foi uma das que recebeu o comunicado. Tatiana, que é representante da turma da filha, conta que ficou preocupada quando soube de rumores de que alunos estavam com a doença e que por isso marcou uma reunião com a diretoria.
“A escola mantém uma central de monitoramento desde a pandemia e existia um boato de que alunos estavam com meningite viral no grupo 4. Quando soube, marquei uma reunião online, e até hoje nenhum caso foi confirmado”, afirma a advogada. A reportagem tentou contato com a escola, mas não obteve resposta até a publicação desta reporagem.
A doença
Casos de meningite viral são mais comuns em crianças de até 5 anos e dificilmente evoluem para quadros graves, como explica o virologista Gúbio Soares.
“Em caso de sintomas, é importante procurar os centros médicos. Geralmente, as medicações para a doença são conhecidas e controlam a febre e a dor de cabeça. Em casos raros, a meningite viral evolui para casos graves", diz o especialista.
O estudante Edrei Santos, 21, lembra até hoje da dor que sentiu pouco antes de ser diagnosticado com meningite viral, aos 12 anos de idade. Em uma manhã, quando acordou em casa, em Feira de Santana, a pressão na parte de trás da cabeça era tão forte que ele teve dificuldades para falar e andar.
“Acordei sentindo uma dor que me deixava paralisado. Eu lembro que comecei a chorar e que quanto mais eu gritava, mais dor sentia. Foi quando meus pais me levaram ao hospital”, relembra o jovem. Quando a meningite viral foi descoberta, Edrei passou cerca de uma semana internado para tratar os sintomas e felizmente recebeu alta sem adquirir sequelas.
Os sintomas das meningites viral e bacteriana são parecidos, por isso, é essencial procurar um especialista, para que o tratamento adequado seja feito.
Pessoas de até 19 anos devem tomar vacina contra forma bacteriana
Se para a meningite viral não existe vacina específica, no caso da forma bacteriana a vacina está disponível nos postos para os profissionais de saúde e pessoas de até 19 anos. Duas vacinas são oferecidas, a meningocócica tipo C (conjugada) e a ACWY. O público alvo foi expandido depois de um aumento de casos da forma bacteriana.
Em outubro, houve aumento de 160% nos casos do tipo bacteriano, mas segundo a Sesab, até julho, apenas 62,9% das crianças baianas tinham se imunizado. Até 24 de setembro, a Bahia tinha 273 pacientes com a doença. O aumento não é exclusivo daqui: em São Paulo houve crescimento de 77% nos casos entre maio e setembro.
Com medo da doença, a estudante de Psicologia Juliana Motta, 27, antes de participar de um congresso na capital paulista, procurpu um posto. “As profissionais de saúde me disseram que como eu já tinha tomado a vacina na infância, não precisava tomar novamente”.
Pouco antes da viagem para São Paulo, Juliana Motta também disse que iria se prevenir como fez durante a fase aguda da pandemia: usando máscara em locais fechados, lavando as mãos sempre que possível e usando álcool em gel.
Sintomas da meningite:
Febre
Rigidez na nuca
Dor de cabeça
Mal-estar
Náusea e vômito
Confusão mental
Sensibilidade à luz
Dores intensas ou dores nos músculos, articulações, peito ou barriga
Manchas vermelhas na pele, parecidas com picadas
Respiração rápida
Calafrios
Fonte Correio