Rafaela Cersosimo, 30, começou o curso de enfermagem na Unifacs, em 2013. Como a mãe estava desempregada e ela só tinha a renda do estágio, de R$ 400, foi contemplada com bolsa de 100% pelo Financiamento Estudantil (Fies) – programa do Ministério da Educação (MEC) que financia estudantes em faculdades particulares. Porém, Rafaela não pôde pagar as parcelas e a dívida, hoje, chega a R$ 71 mil.
Assim como ela, outras 69.830 pessoas na Bahia estão endividadas com o Fies, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fnde), do MEC. Esse número equivale a 38,5% dos alunos que se beneficiam ou se beneficiaram da bolsa no estado. No Brasil, a quantidade de devedores chega a mais de 927 mil pessoas, que, juntas, devem cerca de R$ 38,6 bilhões.
A partir desta segunda-feira (7), os devedores podem renegociar a dívida, com descontos de até 92%. Rafaela se animou com a possibilidade, pois teve redução de 86%. Agora, a dívida é de R$ 9 mil. Porém, ou ela paga à vista ou divide em 10 vezes, o que não é viável. “Meu salário é baixo e não tenho condições de pagar parcelas de R$ 900. Com os descontos do INSS e transporte, o que ganho dá em torno de R$ 1.200”, explica. Nos próximos dias, ela pretende resolver a situação com o Banco do Brasil.
Karina Nascimento, 22, pegou o Fies, em 2017, para cursar engenharia mecânica, na Área 1. Depois de três semestres, ela trancou a faculdade e cancelou o financiamento. “Decidi acumular a dívida para pagar quando tivesse emprego”, explica Karina. O débito dela está em R$ 17 mil. Com a renegociação, ela pagará R$ 1.300. “Não iria pagar agora, só quando me sentisse estabilizada. Mas, conversando com meus pais, será melhor para mim”, completa Karina, que dividirá o valor.
No caso de Lucas Leão*, 33, que se formou em relações internacionais, na Unijorge, em 2016, o total devido é de R$ 60 mil, renegociado para R$ 8.500, valor que não terá condições de quitar. “A renda de minha família é de cerca de um salário mínimo e meio”, confessa Leão, que está desempregado e mora com a mãe. “O pagamento em 150 vezes só ocorre quando o estudante optar por pagar a dívida no valor integral, só anulando multas e juros. Entrou no desconto, o parcelamento fica limitado a 10 vezes. Poucos vão conseguir pagar, porque é totalmente fora da realidade”, avalia.
Em ambas as opções, o desconto vale para pagamento à vista ou dividido dez parcelas, com reajuste pela Selic, a taxa básica de juros. Também é possível parcelar o valor total, sem desconto, em 150 vezes, com isenção de juros e multas. A medida é válida apenas para contratos firmados até 2017.
A Caixa e o Banco do Brasil, agentes financeiros do Fies, foram procurados, mas não tinham fontes disponíveis para entrevista. Em nota, o BB informou que a renegociação por ser feita pelo aplicativo ou em qualquer agência. Os canais de contato são o site www.bb.com.br, o WhatsApp (61-4004-0001) e a Central de Atendimento BB (0800-729-0001).
No caso da Caixa, o processo é totalmente digital. A pessoa deve consultar o site da Caixa para simular a renegociação, gerar o boleto para pagamento da primeira ou parcela única. Para mais informações, os estudantes podem acessar www.caixa.gov.br/fies ou ligar no 0800 726 0101.
Ele também ressalta que o custo com um aluno por financiamento é menor para o governo federal. “Mensalmente, um aluno de Fies custa 30% a menos que um aluno de escola estatal. Além disso, há expectativa que esse aluno pague e se insira no mercado de trabalho”, afirma. Joel julga ainda renegociação como vantajosa para os estudantes e defende que o programa era mais acessível, antes da mudança para o Novo Fies, em 2018.
As inscrições para o Fies 2022 abrem nesta terça (8) e vão até sexta-feira (11).