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Editorial - Lição de convívio

10 de dez. de 2020

 


Por ser instrumento transcendente ao sujeito, o protocolo tem revelado-se manobra para esquiva de entidades como a Fifa, diante da prática habitual de racismo, ferindo princípios básicos do neo-olimpismo, como o respeito à dignidade do atleta.

Não será por uma norma ou legislação, criada por qualquer força reativa, a libertação da humanidade de tão dolorida chaga, mas sim pelas manifestações oriundas do convívio, como ocorreu na partida entre os times PSG, da França, e o Istambul, da Turquia.

A ética não reconhece gabaritos de certo ou errado, como a deontologia – código de direitos e deveres –, mas é construída no conflito e gerada pela indignação produzida no senso de justiça – a diké grega – necessariamente compartilhada pela linguagem.

E foi na morada do ser – a linguagem – a origem da paradigmática celeuma, um marco na história do desporto, nas trincheiras cavadas no combate ao racismo: acendeu a polêmica o quarto árbitro,

ao referir negro o jogador Pierre Webó, de Camarões.

Ao unirem-se os times na deliberação de paralisar o jogo, podem ter contribuído para a educação de milhões de pessoas, dado o poder persuasivo imanente à manifestação cultural do futebol, distribuído em afetividade transmitida ao mundo pelas tecnologias.

Muito mais forte, se cotejado junto a qualquer letra criada por burocratas de entidades do futebol, nacional ou mundial, a atitude de protesto dos jogadores terá tido contribuição imensurável ao debate ético no qual sentou o racismo no banco dos réus.

Coube ao quarto árbitro, habituado a fiscalizar o comportamento dos reservas e do treinador, lecionar involuntariamente para aprendizado de aficcionados ou não do futebol, sobre a importância de evitar referir etnia ao apontar sujeito flagrado em erro.

Resta verificar, a partir desta linha divisória entre os campos do racismo e do antirracismo, o efeito da ação repercutida mundialmente, a fim de conter os ímpetos, observados também nos estádios brasileiros, agora sob impacto desta lição de convívio.