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Amigos me lançaram ao vale dos leprosos', diz Geddel em depoimento

6 de fev. de 2018
Em depoimento em que disse ter se reencontrado com o Padre Antônio Vieira e que foi lançado por amigos ao “vale dos leprosos”, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA) negou nesta terça-feira (6) ter atuado para impedir a delação premiada do corretor Lúcio Bolonha Funaro ao manter inúmeros contatos com a mulher dele após a prisão pela Lava Jato.  
Em interrogatório na Justiça Federal em Brasília, o emedebista alegou que o propósito das ligações e mensagens enviadas era prestar “solidariedade” a Raquel Pita, que cuidava de uma filha recém-nascida e teve o marido encarcerado. “Eram ligações absolutamente humanitárias”, classificou.
Numa divagação, Geddel disse que as “ligações amigáveis devem ter feito bem” à mulher do delator. “Digo isso porque amigos de longa data me lançaram ao degredo, me lançaram ao vale dos leprosos”, declarou, em tom dramático.
Geddel lacrimejou quando lembrou ao juiz que foi preso pela segunda vez no dia do aniversário do filho de oito anos. Ele fez referência ao religioso português da Companhia de Jesus, que foi missionário no Brasil no século 17, ao falar de sua situação: “Me reencontrei com Padre Vieira. Os olhos foram feitos para ver e para chorar, mais chorar do que ver. É a manifestação da alma de dor, de saudade de família”.
Mais magro e vestido de branco, o ex-ministro contou a fábula de “um sábio”, cuja mensagem é de que bons e maus momentos passam, ao exemplificar do que tratava com Raquel Pita.
'MORTE CIVIL'
Ele negou “peremptoriamente” ter oferecido vantagem ao delator ou enviado recados a ele, por meio da mulher. “Fui condenado à pior das penas. Não há remissão, não há indulto, não há anistia, não há graça. Fui condenado à morte civil. As conversas que tinha sobre Funaro eram as mesmas que se tinha sobre José Dirceu, nesse redemoinho de notícias”, comentou.

Geddel foi preso pela primeira vez no ano passado por, supostamente, tentar obstruir investigações das operações Sépsis e Cui Bono, que apuram suposta participação dele em esquema de desvio de recursos da Caixa Econômica Federal.
O MPF (Ministério Público Federal) sustenta que, entre maio e julho, ele fez ao menos 17 ligações para Raquel Pita para sondar se Funaro faria delação. Na denúncia oferecida à Justiça, os procuradores alegam que as investidas visavam intimidar o casal e impedir a colaboração, que acabou ocorrendo. Nela, Funaro implicou Geddel e várias outras autoridades do MDB.    
Na audiência desta terça, o juiz Vallisney de Souza Oliveira propôs ouvir as alegações finais da defesa e da acusação, dando sentença em seguida. Mas o MPF se opôs e foi aberto prazo de cinco dias para cada uma das partes se manifestar. Depois, o processo ficará pronto para a decisão.
Pelo crime de embaraçar investigação de organização criminosa, o ex-ministro pode pegar de três a oito anos de reclusão.
Ele também é investigado em outras frentes. Um processo na Justiça Federal no DF apura se ele cometeu corrupção passiva ao receber supostas propinas na Caixa, quando vice-presidente. Outro caso, que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), trata de suposta lavagem de dinheiro relacionada ao bunker atribuído ao ex-ministro, no qual a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões.
Durante a manhã, antes de Geddel, também falou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Ele depôs como testemunha de defesa do acusado. Ele afirmou ter sabido da delação de Funaro pelos jornais e negou ter tratado com autoridades palacianas sobre a prisão ou a colaboração dele.
“O que eu vi foi especulação pela mídia. Não tinha por que reagir de nenhuma forma [à prisão]. Absolutamente indiferente”, declarou Padilha.
Ele disse que conhece Geddel desde 1995, pois os dois foram deputados, e que não há o que o desabone, no seu entendimento. “Sempre tive nele uma pessoa correta, alguém que cumpria com suas obrigações.”